Boa convivência no trabalho

Confira estratégias para lidar com chefes e colegas difíceis

Em 22/04/2013 Por Rita Trevisan e Louise Vernier

 “Problemas de relacionamento têm um impacto direto na qualidade do trabalho e na produtividade das pessoas, pois criam um clima hostil dentro na empresa”, ressalta Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR (International Stress Management Association) e representante brasileira na Divisão de Saúde Ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA). Se você está sentindo na pele o baque de ter que contar até mil para não perder a cabeça com o sujeito da cadeira ao lado, mil vezes ao dia, comece tentando mudar sua postura. “O primeiro passo é entender que, independentemente da hierarquia que ocupe na organização, você não tem o controle sobre o comportamento alheio”, alerta Ana Maria. 



O remédio é, portanto, tentar desviar o foco do problema e direcionar sua atenção para as qualidades do colega. Agora, se não der certo, tente ser mais ousada, mudando de lugar ou até mesmo pedindo transferência para outro departamento. Para conquistar o tão sonhado equilíbrio emocional para lidar com a situação, aí vão algumas dicas preciosas, de um time de especialistas em carreira e gestão de pessoas ouvido por UMA. Esses profissionais ajudam a entender e a tratar as categorias de colegas difíceis mais manjadas em tudo quanto é tipo de organização. E dão orientações certeiras para driblar a situação com educação, respeito e ainda sair dessa de cabeça erguida. Para ajudar, a gente temperou esses toques com um pouco de bom humor. Assim, fica mais fácil levar tudo na esportiva, não é?

1. Chefe Caco Antibes:
Se seu superior se acha o último brioche da padaria e adora abusar do poder que tem, é essencial que você não se deixe intimidar. Evite o confronto direto, mantenha-se assertiva e não leve o comportamento dele para o lado pessoal. O principal desafio é aprender a conviver com o desequilíbrio que ele causa na empresa. “O clima defensivo que as pessoas adotam para lidar com um chefe como esse poda a criatividade e gera insatisfação e ressentimento”, explica Rossi. Nessas horas a comunicação é afetada, já o potencial para conflito e retaliação aumenta. Porém, não se deixe manipular a ponto de virar a marionete do chefe. Busque o apoio de colegas, amigos e familiares, e foque a atenção nas coisas da empresa que lhe trazem prazer. Ainda assim, fique atenta, qualquer ação que resulte em humilhação ou constrangimento é considerada assédio moral. No mais, pense que lidar com o chefe que se acha é um ótimo exercício de paciência e superação. “O profissional aprende a controlar suas reações emocionais e a conviver com situações adversas sem comprometer a própria qualidade de vida e o prazer de viver”, garante a especialista.

2. Colega “eu que fiz”:
Ele quer sempre estar à frente, tirar a oportunidade dos demais colegas de se sobressaírem e tem até a cara de pau de roubar para si o crédito de um sucesso alheio. Esse tipo de profissional não tende a ser um bom ouvinte e acredita estar sempre com a razão. Para continuar convivendo na boa com ele e não ganhar rugas antes do tempo, tente entender que a competitividade dele não é pessoal e não espere recíproca de tratamento ou favores e muito menos que ele vá dividir méritos com você. Outra estratégia é deixar bem claro que, de sua parte, não há nenhum interesse em disputas, que você o enxerga como um colega do mesmo time e que, ambos trabalhando juntos e pela mesma causa, têm mais chances de vencer. “Mostre que você veste a camisa da empresa e não a sua. Faça seu trabalho benfeito e apresente resultados a seus superiores”, aconselha Bruno Juliani, presidente da Academia Brasileira de Coaching (ABRACOACHING). Por fim, aproveite para se espelhar na qualidade dessas pessoas, que são extremamente decididas, focadas em resultados e ágeis.

3. Colega nuvem negra:
Não há ninguém melhor para deixar o astral da empresa nublado do que um colega mal-humorado e pessimista. E o maior desafio ao lidar com esse tipo de pessoa é justamente não entrar no clima que ele propõe. Então, se tudo o que você quer é manter seu sol interior brilhando como nunca, a despeito das profecias de fim de mundo que ele adora fazer, não entre no jogo. Procure responder às afirmações críticas e pesadas do fulano com palavras de compreensão, ou simplesmente mude de assunto e de ambiente. “O importante é lembrar que você sempre pode escolher se quer ou não fazer parte da situação que ele está tentando gerar”, ensina Lucimar Delaroli, psicóloga e especialista em gestão de pessoas. Rituais de equilíbrio emocional, como preces e meditações, também são válidos para neutralizar as influências ruins.

4. Colega “conta mais”:
Quem nunca trabalhou com uma dessas pessoas que têm a capacidade de fazer um acontecimento banal virar um babado forte pelos corredores da empresa? Com uma informação quente, então, ela faz verdadeiros estragos! Com esse tipo de colega, um dos maiores desafios, de cara, é não se render à fofoca. Por isso mesmo, o ideal, ao vê-lo se aproximar na hora do cafezinho, é tentar arranjar uma desculpa e sair de fininho ou, na pior das hipóteses, mudar rapidinho de assunto. Se não tiver jeito, ouça, mas não acredite em tudo o que ele diz e nunca, jamais, passe adiante o “bapho”. Por outro lado, se o assunto que anda na boca do povo diz respeito a você, não perca tempo querendo intimidar o fulano e simplesmente espere a poeira baixar, para não dar mais ibope ao mexerico. Considere que os fofoqueiros, em geral, são homens e mulheres muito carentes e que fazem tudo apenas porque necessitam de atenção. Daí, sempre que possível, evite expor suas intimidades com eles, ou mesmo informações que ainda não são públicas, os tais segredos que ele ama espalhar. “Compartilhe somente assuntos rotineiros e conte sobre seus sucessos, jamais sobre as derrotas. Ele vai acabar espalhando apenas as informações que colaboram para sua imagem positiva na empresa e não o contrário”, aconselha Juliani. No mais, caso você faça o estilo tímida e na sua, tente aprender com o colega a ser mais comunicativa.

5. Colega espaçoso:


Trabalhar ao lado de tipinhos folgados que abusam de 
nossa boa vontade não é mole. O desafio é ter paciência para contornar a situação com calma e tranquilidade. “Na maior parte das vezes, esse colega não tem muita consciência do que faz, portanto, abordá-lo bruscamente não é uma boa alternativa”, explica Lucimar Delaroli, psicóloga e especialista em gestão de pessoas. Se ele exagerar na dose, tente ignorar seus pedidos descabidos, fingindo que não ouviu e, infelizmente, não pode ajudá-lo naquele momento. Agora, se o queridinho vive metendo a mão em seus objetos pessoais sem pedir permissão, respire fundo e com toda a elegância e firmeza diga que não vê problema em partilhar, desde que ele peça autorização para usar. “Apenas vá sinalizando, caso a caso, o que ele fez com que você concorda e o que não admite. Sempre de forma pontual, breve e educada”, ensina Lucimar. Aproveite para exercitar a sua paciência, aprender a lidar com conflitos e administrar o estresse.

6. Chefe camisa de força:
Não poder opinar sobre os assuntos da empresa ou se defender quando recebe uma bronca é frustrante. Mas esse é o tipo de situação que merece uma conversa honesta com seu superior. Nesse papo, é importante mostrar que defendem o mesmo time e que está disponível para ajudar e apoiar. “Observe quais os melhores momentos, em que ele está mais receptivo, para tocar em assuntos delicados como esse”, aconselha Verônica Rodrigues da Conceição, consultora em liderança, desenvolvimento e gestão estratégica de pessoas. Aproxime-se de forma tranquila, com certa simpatia no olhar, para demonstrar que você não representa uma ameaça e, assim, fazê-lo baixar a guarda e até, quem sabe, considerar a possibilidade de estabelecer uma relação de parceria. “Com um chefe autoritário você pode aprender a reconhecer, aceitar, respeitar e até aproveitar melhor as diferenças entre as pessoas”, diz a especialista.

7. Colega “eu que sei”:
É preciso muito jogo de cintura para dobrar um colega que não aceita a opinião alheia e se acha sempre o dono da razão. Esse tipo de pessoa gosta tanto de atenção que uma estratégia infalível é ignorá-lo e procurar discutir temas importantes com outros colegas. Assim, talvez ele perceba que seu comportamento está sendo inadequado e que não está agregando para o grupo. Nos momentos em que ele estiver fazendo mais um de seus sermões, e até atacando com veemência uma ideia sua, respire fundo e continue focada no que acredita. Pode ter certeza de que agindo corretamente e com discrição, você será notada e reconhecida por seus superiores, sem precisar se vangloriar por isso. “Seja educada, colabore quando sua ajuda for solicitada e evite indisposições públicas, como falar mal ou fazer fofocars sobre o colega”, diz José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC). É assim que você vai tirar de letra a situação.

8. Colega Gérson 2.0:
Ele é a versão renovada do malandro dos anos 1970, adora pregar peças e tirar vantagem em todas as situações possíveis. Para não se deixar levar pela vontade de esganálo com seu cinto novo – e estragá-lo (o cinto, claro!) – procure ser mais assertiva, mantenha a calma e evite reações agressivas quando se sentir provocada. “Aja de forma inteligente e, quando ele estiver se vangloriando injustamente, pontue que o trabalho foi coletivo e não individual”, aconselha Marques. Mantenha sua postura profissional e, se precisar se dirigir a ele, seja educada e restrinja-se a responder às perguntas que ele faz. Além disso, trabalhe com ele só quando for inevitável. No mais, olhe pelo lado bom: conviver com esse tipo de pessoa vai ser um empurrão e tanto para que você desenvolva sua inteligência emocional, a capacidade de lidar com pessoas praticamente insuportáveis sem pirar e nem fazer uma besteira capaz de afetar seu sucesso na carreira.

9. Colega nota de 15:
Lidar com um fulano que é falso até a morte e não faz nem questão de disfarçar é um desafio diário. Para aguentar a barra, o importante é manter o foco em suas tarefas, procurando manter o máximo de distância desse encrenqueiro. Se quer continuar bem na empresa, evite dar atenção ao que ele diz sobre outras pessoas da equipe. Da mesma forma, não exponha suas insatisfações a ele, porque isso pode ser usado contra você. Outra sugestão: evite bater de frente com ele, pois pessoas com esse perfil costumam ser manipuladoras e conseguem com facilidade criar toda uma situação para colocar as pessoas a favor de suas próprias causas. “Foque em realizar com qualidade seu trabalho e crie relações de confiança com outros colegas. Mesmo para um bajulador de carteirinha é difícil superar alguém bem-preparado”, afirma José Roberto. “Às vezes é impossível neutralizar as influências negativas desse colega. Contudo, contra resultados positivos, não há argumentos que sejam válidos. Então, faça um bom trabalho”, reforça o coach. No fim, considere que um colega que não tem lá muita ética e caráter só servirá para ajudar você a reafirmar ainda mais suas convicções e seus valores. “Mostre a outra face ou dê bons exemplos em vez de agir como ele. Seja uma profissional melhor, mais honesta, e talvez ele se toque”, completa Marques.

10. Colega Anderson Silva:
Você acaba de ligar o computador e lá vem ele com aquele gingado que a intimida da cabeça aos pés. Ele nem precisa falar, basta olhar e já faz você se sentir uma formiguinha insignificante. Mas acredite: isso tudo é marra. Em geral, pessoas assim são extremamente inseguras e assumem a imagem de duronas só para tirar o foco de suas próprias vulnerabilidades. No entanto, aceitar ou não os comentários depreciativos que esse fulano faz é escolha sua. Ainda assim, é interessante avaliar quais críticas são válidas, antes de se defender. “Ouvir uma crítica difícil e uma sugestão de mudança pode ajudá-la, de verdade, a crescer”, pondera Verônica. Mas, se quiser driblá-lo, a sugestão é não se colocar em uma posição inferior, mesmo enquanto estiver ouvindo com atenção uma crítica que faz todo o sentido. Lembre-se de trazer sua autoconfiança à tona e de colocar em evidência também suas qualidades e seus feitos, mantendo o nível de respeito. Por fim, aproveite essa companhia um tanto quanto desagradável para aprender a ser mais paciente e a olhar seus próprios defeitos com naturalidade, trabalhando para superá-los.

Fotos: Shutterstock

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