DONA DO PRÓPRIO NARIZ

MATÉRIA REVISTA UMA -  ''DONA DO PRÓPRIO NARIZ'' - EDIÇÃO NOVEMBRO/12







Dona do próprio nariz

Cada vez mais empresas trocam a contratação formal pela opção do freelancer. Para quem está no outro lado da mesa, a mudança pode trazer vantagens. No entanto, antes de formular ou aceitar uma proposta assim, é preciso certificar-se se esse tipo de trabalho combina com sua personalidade e, principalmente, com seus objetivos de vida

Por Rita Trevisan e Caroline Bastos

Ter mais autonomia e a liberdade de produzir onde e quando quiser. Essas são as principais vantagens de quem atua por conta própria. Além disso, o freelancer, também conhecido popularmente como freela ou frila, capta e atende seus clientes e de forma independente e, por isso mesmo, pode escolher os projetos de que deseja participar. "Na minha visão, um dos maiores ganhos desse tipo de trabalho é poder participar de vários projetos em um curto espaço de tempo, conhecer empresas e profissionais diferentes em cada um deles. Além de permitir a ampliação do network, trata-se de uma experiência pessoal que pode ser muito enriquecedora", afirma a psicóloga Carla Virmond Mello, especialista em gestão de pessoas da empresa ACTA Carreira, Transição e Talento.

Outros pontos positivos de se fazer essa opção são contar com um pagamento líquido mais alto e com a comodidade de não precisar fazer tantos deslocamentos de casa para o trabalho, o que faz uma diferença tremenda nas grandes metrópoles, onde o trânsito simplesmente trava as principais avenidas na hora do rush.

No entanto, ao contrário do que se imagina, o freelancer tem que ser muito mais disciplinado do que o profissional contratado. "É essa disciplina que vai fazer que o fluxo de trabalho se mantenha constante", ressalta Renato Gringerb, professor de liderança e diretor geral do Trabalhando.com, site de recrutamento. Isso porque não haverá supervisores acompanhando diretamente o andamento do projeto ou cobrando os prazos. E entregar um material de qualidade, em tempo hábil, organizando-se para isso, é algo que influencia de maneira decisiva no crédito que se ganha no mercado e, claro, no lucro que se atinge ao final de cada mês.

E, por falar nisso, avaliar a própria capacidade de administrar o dinheiro, contando com uma certa alternância de renda, é fundamental no momento de se decidir entre o trabalho fixo e o job ou projeto. "Num emprego fixo, o dinheiro para a aposentadoria, o plano de saúde e o FGTS já são separados automaticamente. Já o freelancer terá que fazer essa gestão de seus recursos por conta própria", pondera a psicóloga Isabella Bartelli, analista de treinamento corporativo. Como se não bastasse, o freela terá de assumir a dianteira de sua contabilidade, gerenciamento fluxo de caixa, emitindo recibos e notas fiscais, pagando contas, entre outras incumbências que exigem, sim, algum tino na área de administração.


Controle seu tempo...

Outro desafio do trabalho sem vínculo empregatício, além do cuidado com os recursos financeiros, é a gestão do tempo. "A rotina, para algumas pessoas, pode ser mais libertadora do que o trabalho por conta. Com ela, sabemos a que horas temos que acordar, comer, voltar pra casa, e isso pode representar maior facilidade de organização, o que acaba nos liberando para fazer outras coisas no período que sobra. Já quem tem dificuldade de se organizar sozinho pode não saber a hora de prar e acabar estendendo suas jornadas de trabalho muito além da conta, misturando o pessoal com o profissional a todo o momento", alerta Isabella.

Assim, a opção de freela só vai representar mais qualidade de vida e até um contato maior com a família se houver uma mínima estrutura para se trabalhar em casa, com horários preestabelecidos para o descanso e o lazer.

Para Isabella, um bom freela é o que lida bem com essas questões e que ainda sabe se automotivar. Afinal, o profissional autônoma não tem alguém por perto para cobrar rendimento, ou mesmo para dar um feedback das habilidades em que ele pode se aperfeiçoar. "O freela não pode se esquecer da importância do investimento em si, no aprimoramento do currículo, a partir da realização de cursos. Da mesma forma, precisa ter o cuidado de não se isolar, e fazer um bom network, para trocar conhecimentos e vender seus projetos", indica a psicóloga. Trocando em miúdos, é imprescindível que o freelancer saiba divulgar seus diferenciais, porque é assim que vai captar novos trabalhos.

Por fim, é preciso reconhecer que há certa diferença de status entre o profissional que está ligado a uma empresa e o que trabalha sozinho. "Até para as pessoas da família pode ser difícil reconhecer no freelancer a identidade de um trabalhador. Isso porque ainda estamos falando de uma realidade muito nova no mercado", conclui Isabella.

Prepare-se!

É preciso racionalizar bastante a fantasia do freela que trabalha livremente e deixa fluir sua criatividade, antes de entrar nesse esquema de trabalho autônomo. Ser dono do próprio nariz é muito mais difícil do que se imagina, pois requer disciplina, organização e persistência. Quem trabalha por conta não raro precisa atuar em todas as instâncias, ou seja, tem que vender, apresentar o projeto, entregar, cobrar, fazer o acompanhamento e ainda garantir a qualidade para voltar a ser lembrado em outro job", diz a psicóloga Carla Virmond Mello.

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Coaching, José Roberto Marques, a decisão certa depende de uma avaliação não apenas das mudanças no curto prazo, mas também do impacto na vida e na carreira ao longo dos anos. "Vale a pena se perguntar quais são seus objetivos com a mudança, se está pronta para atender a todas as demandas do novo trabalho, se tem uma cartela de clientes ou prospectos capaz de garantir a manutenção do padrão de vida desejado e, o mais importante, se está realmente pronta para trabalhar em casa, com um mínimo de organização e disciplina", ensina.

Você leva jeito?

Veja quais são as características mais importantes para se destacar como freela:
  • Capacidade de organização, para otimizar o tempo e criar métodos e processos que garantam um fluxo de produção constante e a entrega dos projetos no prazo.
  • Automotivação.
  • Ampla experiência em determinada área e bom network.
  • Facilidade para gerir seus recursos, planejar gastos e fazer aplicações financeiras.
  •  Metas profissionais bem estabelecidas para curto, médio e longo prazos. 
Prós e contras

Confira as vantagens e desvantagens de trabalhar por projetos, sem vínculo empregatício:

Vantagens
  • Fazer uma carteira de clientes de diferentes áreas, aumentar o network e os conhecimentos sobre os mais diversos assuntos.
  • Escolher quando e onde trabalhar, planejando os demais compromissos com mais liberdade.
  • Poder selecionar apenas os projetos, clientes e segmentos que lhe interessam e descartar os indesejáveis.
  • Potencial para ganhar mais dinheiro e ter mais receita ao final de cada mês
  • Não depender diretamente da decisão de terceiros sobre o futuro de sua carreira ou negócio

Desvantagens

  • Fluxo de trabalho inconstante e alternância de renda
  • Risco de ganhar menos dinheiro ou ter menos receita no longo prazo
  • Grande demanda de trabalho, já que é necessário atuar em diversas instâncias, vendendo, inclusive, seu trabalho, alimentando contatos comerciais com clientes e novos prospectos
  • Ter que fazer sua contabilidade e gerenciar seu fluxo de caixa por conta própria
  • Decidir sozinha sobre os próximos passos e sobre o futuro de sua carreira ou seu negócio. Não poder contar com um superior para dirigir, corrigir e tirar as dúvidas.
Fonte: Verônica Rodrigues da Conceição, consultora organizacional, Senior Executive Coach e diretora da VR Consulting.


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